segunda-feira, 21 de março de 2011

CARCARÁ PEGA, MATA E COME


Mary Beth. . . Epa, agora fui levado pela conversa que ouvi na praia, entre uma turista e uma vendedora ambulante conterrânea da cantora baiana.

A conversa que presenciei, teve o condão de me levar a uma triste conclusão, a de que: Eu deixei o Brasil, ou, o Brasil me deixou. Explico melhor.

Depois de uma breve troca de palavras sobre a qualidade e o preço do artesanato oferecido, a turista perguntou à jovem qual era o seu nome, ao que esta respondeu num átimo, com a sua deliciosa pronúncia nordestina, MARIRRELPI.

-“Como?” Perguntou a turista.

-“MARIRRELPI” respondeu a vendedora.

Ante a cara de espanto da turista a jovem explicou:

-“Óxente, não é preciso esse espanto. O meu nome é Maria do Socorro, que é muito feio, por isso, agora eu digo que me chamo de MARIRRELPI. Em “ingreis” fica muito mais bonito.

Assim são os brasileiros de hoje. Só são brasileiros quando o assunto é Futebol ou Carnaval, no mais, trazem entranhada dentro de si, uma incomensurável vergonha de revelar a sua origem, e o que é pior, desdenham de tudo e de todos os que não se envergonham disso.

Já discuti com um desses apátridas, que defendia a tese de que não foi Santos Dumont o inventor do avião e sim os irmãos Wright.

Tenho participado de acirradas discussões sobre problemas educacionais e sempre ouço palavras depreciativas ao modelo de educação musical proposto por Villa-Lobos (o CANTO ORFEÔNICO), jogadas ao vento por indivíduos que jamais tiveram em mãos o projeto original e se baseiam apenas no que dele fizeram os maus professores, ou o que é pior, para poder enaltecer apenas os métodos: “Orff” (alemão), “Dalcroze” (Suíço), “Kodaly” (Húngaro), “Suzuki” (Japonês), Willems (Belga) de quem, por sinal, fui Auxiliar Pedagógico, quando do curso que o Mestre realizou em São Paulo.

Recentemente em Simpósio realizado na “Sorbonne”, a musicóloga Maria Helena Pinto da Silva Elias, de Belém do Pará, Pesquisadora Associada ao “Observatoire Musical Français” relatou: “A observação prática pianística (leia-se musical) no Brasil revela uma relativa ausência da música atual e uma frágil presença da produção brasileira...”. Mais adiante: “Impõe-se uma reação, pois a escassa divulgação da produção musical brasileira em geral tem sérias consequências além das nossas fronteiras”. Em outro trecho diz: “O país difunde e promove prioritariamente a música popular que, na sua diversidade, não deixa de ter exemplos interessantes e atraentes. Mas, a meu ver, a música erudita brasileira também os possui. Por isso talvez seja a hora de ajudá-la um pouco mais”.

Como se pode observar, enquanto o estadounidense é AMERICANO, o Francês, FRANCÊS, o Alemão, ALEMÃO e por ai vai; O brasileiro é, cada vez mais, menos brasileiro.

Pensando na última frase da musicóloga paraense, volto a matutar: Fui eu que deixei o Brasil, ou foi o Brasil que me deixou?

Você deve estar pensando:

- Mas aonde ele quer chegar?”

Eu digo.

De que valeu: Haver trabalhado durante 47 anos como educador; Vencer mais de uma dezena de prêmios em concursos de composição (erudita); Ser escolhido doze vezes como “Melhor do Ano” pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte); ser eleito Membro Efetivo da Academia Brasileira de Música; estar associado a entidades “defensoras” dos Direitos Autorais desde 1956 e não haver recebido, desde essa época, R$ 0,01 (um centavo) pelas milhares de execuções de minhas obras no Brasil e no Exterior?

Por quê, para receber um misero cachê referente a um recital de piano com obras de minha autoria, patrocinado pela prefeitura de São Paulo, tive que pagar “direitos autorais a mim mesmo” e até hoje não recebi NADA do ECAD? E agora sou surpreendido pela notícia de que Mary Beth, ou seja, a nossa Maria Bethânia é agraciada com, nada mais, nada menos do que R$ 1,3 milhão, ou seja, um milhão e trezentos mil reais para fazer um “BLOG”?

Sinto-me como uma presa sendo devorada por aves de rapina, já que o lema parece ser: PEGA, MATA E COME.

Será que pelo meu trabalho e projeção nacional e internacional, não seria merecedor, também, de um prêmio no mínimo semelhante? Que devo fazer:
Mudar de país?
Afiliar-me ao bando de “Carcarás” que o invadiram, mesmo não tendo a intenção de tornar-me desonesto, imoral e desavergonhadamente capacho de culturas outras que não a nossa?
Mudar meu nome de Sérgio Vasconcellos-Corrêa para Serge Vasconselov Von qualquer coisa?

É, continuo sem saber se fui eu que deixei o Brasil, ou se foi o Brasil que me deixou?

sábado, 12 de fevereiro de 2011

NOTÍCIAS

FITO lança o VII CONCURSO DE PIANO


O Conservatório de Música, Dança e Teatro “Villa-Lobos” de OSASCO, acaba de lançar o Regulamento do seu “VII Concurso de Piano”, que este ano homenageia o Compositor paulista Sérgio de Vasconcellos-Corrêa.
Informações – Regulamento – Inscrições, na Fundação Instituto Tecnológico de Osasco, rua Camélia, 26 – Jardim das Flores – Osasco – SP, ou pelo telefone: (11) 3652-3018 e 3652-3043.



Madrigal ARS VIVA de Santos, sob a direção do Maestro Roberto Martins, apresenta
a AVE MARIA do compositor Sérgio de Vasconcellos-Corrêa.

_____________________________________________________


A professora, compositora e pianista Dra. Sílvia Berg, organizadora do “I Encontro Internacional de Educadores em Música” (11 a 14 de abril de 2011) do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras – USP - de Ribeirão Preto (FFCLRP, USP Ribeirão Preto), chefiado pelo professor Dr. Rubens Ricciardi, acaba de nos enviar o honroso convite para proferir a Palestra de Abertura do referido “Encontro”, a ser realizada em 11 de abril p. f. , quando se dará a apresentação do Projeto MÚSICA-CRIANÇA-FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE EXCELÊNCIA, a ser iniciado em ainda em 2011.
O “Encontro” prevê, além da Abertura Oficial, Recital de Piano com obras do palestrante e de outros compositores brasileiros, Oficinas, Palestra-diálogo entre o compositor, o interprete, alunos e o público, culminando com a apresentação do projeto MÚSICA-CRIANÇA.
Maiores informações pelos telefones: (55 16) 3602-3136 - (55 16) 3602-3169 E (55 16) 3602-4821 (fax), ou diretamente no Departamento de Música da FFCLRP – Universidade de São Paulo – Campus de Ribeirão Preto (SP) AV. Bandeirantes, 3.900 – Ribeirão Preto – SP- CEP: 14.040-900.
_____________________________________________________

CARTA ABERTA

Prezado Ouvidor

É estarrecedora a situação da Cultura no Brasil.
Relembrando a fala do nosso ex-presidente: "Como nunca antes neste País", a cada dia que passa mais nos é dado a perceber que: a incompetência, a ignorância, a falta de sensibilidade, o desconhecimento dos mais rudimentares preceitos de boa educação e o desrespeito àqueles que lutam por um país mais culto, menos desigual, mais civilizado e menos cafajeste, são coisas que vão ficando no passado.
É inconcebível que o País que teve um Imperador compositor de "Música Erudita" (D.Pedro I), um Presidente de Estado, compositor de "Música Erudita" (Carlos de Campos), o maior compositor de óperas das Américas (Antonio Carlos Gomes), um dos maiores compositores de "Música Erudita" do século XX (Heitor Villa-Lobos), se encontre hoje na triste e humilhante condição de ver, relegados aos mais baixos níveis de audiência, os programas teatrais, radiofônicos, televisivos e outros que tais, dedicados à música culta, por culpa única e exclusiva dos incompetentes que dirigem a cultura em nosso País. Para que criar emissoras de rádio e de TV com nomes pomposos - Radio Brasil, Rádio Ministério da Educação e Cultura, as diversas "Rádio Cultura", espalhadas por todo o território nacional se o que elas fazem, mal e porcamente, é divulgar a "A Grande Música", como o programa há anos dirigido por José Schiller na TV Brasil, sempre sujeito à boa vontade de programadores despreparados, incultos e preconceituosos?
Realmente, o Presidente Lula tem razão, "nunca antes neste País", tão poucos - despreparados - tem o poder de desrespeitar e de frustrar o prazer estético de significativa parcela (culta) da população.

Sérgio de Vasconcellos-Corrêa
Compositor membro da Academia Brasileira de Música.
Professor Doutor (Aposentado) - UNICAMP/ UNESP
Educador: Professor Efetivo da Secretaria da Educação – SP (1º lugar em Concurso Público de Títulos e Provas), Escola de Demonstração (USP) /Ginásios Vocacionais de São Paulo/Ginásios Estaduais Pluricurriculares Experimentais / SEFORT (Serviço de Ensino pelo Rádio e TV da Secret. da Educ. do Governo do Estado de São Paulo
Conselheiro Fundador do Museu da Imagem e do Som (SP).
Jornalista: “Folha de S

domingo, 30 de janeiro de 2011

A Música nas Escolas


A Música nas Escolas
Artigo extraído do livro Planejamento em Educação Musical
(1ª edição 1971) e (2ª edição 2011)

Sérgio de Vasconcellos-Corrêa
(30-01-2011)


Venho observando, as exposições feitas pelos mais diversos especialistas consultados a respeito da volta da Educação Musical às escolas, e chego à conclusão de que os objetivos que têm em mente vão: da simples proposta de inclusão de práticas recreativas com música, até a formação de orquestras.
O mais alarmante, é que nenhuma dessas propostas explora a música no seu aspecto formativo.
No geral deixam antever, quando muito, apenas “objetivos imediatos” - relacionados “ao fazer” musical - com ênfase na prática instrumental, postura meramente casuística, apoiada no engodo político da profissionalização, sem falar na manifesta, preconceituosa e antieducativa predileção por determinada vertente artística, seja ela popular ou erudita, atitude absolutamente contrária aos princípios que devem nortear qualquer ação educativa no âmbito da coletividade. Acredito, sinceramente, que a responsabilidade por tal indefinição é devida ao instrumento legal que trouxe a música de volta às escolas. Uma Lei que ao invés de privilegiar a educação na sua base, atende claramente a interesses outros, entre os quais, o dos músicos populares e eruditos sem formação pedagógica, o dos fabricantes de instrumentos musicais, o dos pedagogos sem formação musical, em detrimento dos verdadeiros educadores musicais, uma vez que o artigo que tratava da “formação dos professores” foi vetado, por decisão irresponsável do próprio Ministério da Educação. É assustador constatar, que aqueles a quem cabe cuidar da educação no país, não sabem a diferença que existe entre EDUCAR e ENSINAR.
O ensino musical, este sim deveria ser regulamentado, dando-se “status” de primeiro grau aos Conservatórios, de modo que esses estabelecimentos de ensino musical preparassem, durante um mínimo de seis anos, os estudantes de música interessados em ingressar no Curso Superior e não o absurdo de permitir - como ocorre atualmente - que estudantes com o mínimo de conhecimentos musicais, ingressem nas Faculdades de Música e três anos depois, saiam com diplomas de Bacharéis como: instrumentistas, regentes, compositores, musicólogos e professores, inclusive de Educação Musical, sem qualquer preparo no vasto e complexo mundo da Educação.
Espero que um pouco de bom senso ilumine a todos os que apoiaram essa Lei estapafúrdia e os faça lutar pela implantação do primeiro grau artístico sob a responsabilidade das escolas especializadas, deixando aos educadores a tarefa de educar, utilizando a música como instrumento.
Senhores políticos. Antes de criar projetos de Lei, consultem os que são do ramo, não os que circulam em sua órbita, interessadamente. Ponham a mão na consciência, pesquisem, ou se isso der muito trabalho, consultem as entidades de classe capacitadas a opinar a respeito, porém, não se esqueçam de solicitar a essas entidades, que procurem em seus quadros os nomes daqueles que já deram provas de proficiência no setor. De nada adianta a Academia Brasileira de Música, órgão consultivo do Governo Federal, indicar compositores, pianistas, historiadores e críticos de música que jamais entraram em uma sala de aulas de primeiro grau, para opinar a respeito do que não entendem, ou seja, EDUCAÇÃO MUSICAL.
É por isso que assim me manifesto a respeito dessa excrescência transformada em Lei, que agora entra em vigor, e discordo de todos os que a encamparam:

Non Credo

Não creio no político, todo poderoso,
Criador, para si, de um céu na terra,
Não creio nas excelências, nossos senhores,
Concebidos em conchavos, pelo poder de espíritos corruptos,
Nascidos da Ganância,
Padeceram sob a ditadura,
Crucificados, enaltecidos e perseguidos
Desceram aos porões do DOPS,
Subiram a rampa do planalto,
Estão sentados à esquerda da Democracia
De onde julgam os vivos e os mortos.

Não creio na justiça,
na sinceridade das palavras,
na comunhão das idéias,
na remissão dos males,
na ressurreição da honra
na honestidade,

Não Creio.