Mary Beth. . . Epa, agora fui levado pela conversa que ouvi na praia, entre uma turista e uma vendedora ambulante conterrânea da cantora baiana.
A conversa que presenciei, teve o condão de me levar a uma triste conclusão, a de que: Eu deixei o Brasil, ou, o Brasil me deixou. Explico melhor.
Depois de uma breve troca de palavras sobre a qualidade e o preço do artesanato oferecido, a turista perguntou à jovem qual era o seu nome, ao que esta respondeu num átimo, com a sua deliciosa pronúncia nordestina, MARIRRELPI.
-“Como?” Perguntou a turista.
-“MARIRRELPI” respondeu a vendedora.
Ante a cara de espanto da turista a jovem explicou:
-“Óxente, não é preciso esse espanto. O meu nome é Maria do Socorro, que é muito feio, por isso, agora eu digo que me chamo de MARIRRELPI. Em “ingreis” fica muito mais bonito.
Assim são os brasileiros de hoje. Só são brasileiros quando o assunto é Futebol ou Carnaval, no mais, trazem entranhada dentro de si, uma incomensurável vergonha de revelar a sua origem, e o que é pior, desdenham de tudo e de todos os que não se envergonham disso.
Já discuti com um desses apátridas, que defendia a tese de que não foi Santos Dumont o inventor do avião e sim os irmãos Wright.
Tenho participado de acirradas discussões sobre problemas educacionais e sempre ouço palavras depreciativas ao modelo de educação musical proposto por Villa-Lobos (o CANTO ORFEÔNICO), jogadas ao vento por indivíduos que jamais tiveram em mãos o projeto original e se baseiam apenas no que dele fizeram os maus professores, ou o que é pior, para poder enaltecer apenas os métodos: “Orff” (alemão), “Dalcroze” (Suíço), “Kodaly” (Húngaro), “Suzuki” (Japonês), Willems (Belga) de quem, por sinal, fui Auxiliar Pedagógico, quando do curso que o Mestre realizou em São Paulo.
Recentemente em Simpósio realizado na “Sorbonne”, a musicóloga Maria Helena Pinto da Silva Elias, de Belém do Pará, Pesquisadora Associada ao “Observatoire Musical Français” relatou: “A observação prática pianística (leia-se musical) no Brasil revela uma relativa ausência da música atual e uma frágil presença da produção brasileira...”. Mais adiante: “Impõe-se uma reação, pois a escassa divulgação da produção musical brasileira em geral tem sérias consequências além das nossas fronteiras”. Em outro trecho diz: “O país difunde e promove prioritariamente a música popular que, na sua diversidade, não deixa de ter exemplos interessantes e atraentes. Mas, a meu ver, a música erudita brasileira também os possui. Por isso talvez seja a hora de ajudá-la um pouco mais”.
Como se pode observar, enquanto o estadounidense é AMERICANO, o Francês, FRANCÊS, o Alemão, ALEMÃO e por ai vai; O brasileiro é, cada vez mais, menos brasileiro.
Pensando na última frase da musicóloga paraense, volto a matutar: Fui eu que deixei o Brasil, ou foi o Brasil que me deixou?
Você deve estar pensando:
- Mas aonde ele quer chegar?”
Eu digo.
De que valeu: Haver trabalhado durante 47 anos como educador; Vencer mais de uma dezena de prêmios em concursos de composição (erudita); Ser escolhido doze vezes como “Melhor do Ano” pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte); ser eleito Membro Efetivo da Academia Brasileira de Música; estar associado a entidades “defensoras” dos Direitos Autorais desde 1956 e não haver recebido, desde essa época, R$ 0,01 (um centavo) pelas milhares de execuções de minhas obras no Brasil e no Exterior?
Por quê, para receber um misero cachê referente a um recital de piano com obras de minha autoria, patrocinado pela prefeitura de São Paulo, tive que pagar “direitos autorais a mim mesmo” e até hoje não recebi NADA do ECAD? E agora sou surpreendido pela notícia de que Mary Beth, ou seja, a nossa Maria Bethânia é agraciada com, nada mais, nada menos do que R$ 1,3 milhão, ou seja, um milhão e trezentos mil reais para fazer um “BLOG”?
Sinto-me como uma presa sendo devorada por aves de rapina, já que o lema parece ser: PEGA, MATA E COME.
Será que pelo meu trabalho e projeção nacional e internacional, não seria merecedor, também, de um prêmio no mínimo semelhante? Que devo fazer:
Mudar de país?
Afiliar-me ao bando de “Carcarás” que o invadiram, mesmo não tendo a intenção de tornar-me desonesto, imoral e desavergonhadamente capacho de culturas outras que não a nossa?
Mudar meu nome de Sérgio Vasconcellos-Corrêa para Serge Vasconselov Von qualquer coisa?
Mudar de país?
Afiliar-me ao bando de “Carcarás” que o invadiram, mesmo não tendo a intenção de tornar-me desonesto, imoral e desavergonhadamente capacho de culturas outras que não a nossa?
Mudar meu nome de Sérgio Vasconcellos-Corrêa para Serge Vasconselov Von qualquer coisa?
É, continuo sem saber se fui eu que deixei o Brasil, ou se foi o Brasil que me deixou?
Saudações! Este ano comprei o primeiro volume do Canto Orfônico de Villa-Lobos, gostaria de saber mais sobre este método. Vejo que o professor e Mestre está coberto de razões! Acrescento: o Piano Brasileiro é muito mal divulgado no Brasil, é necessário um projeto para fazer as leituras adequadas, mas vai precisar de muitos piasnistas que queriam fazer o Bem pela Música Brasileira.
ResponderExcluirO seu artigo é,NO MÍNIMO, necessário...
ResponderExcluirO Brasil, caro professor,deixou de ser o Brasil, para se tornar o "brazzzil" ( esse com letra miúda mesmo, pq é assim que "eles" vêem o nosso vilipendiado país...sempre mínimo, diminuto etc e tal...)há muito tempo !
Não é "politicamente correto" sermos patriotas e cultivarmos nossa cultura como um todo, sem sermos tachados de "nacionalistas ultrapassados"...
Agora, pra ficar "reeditando" obras de toda sorte de autores que tem nomes que acabam com "orff", "insk", "hams", "arl" e que tais, tá tudo certinho ! (não que com isso não seja necessário toca-los, pelo contrário, teremos que faze=lo e muito, pra não "soar" como xenofobia, aos "patrulheiros" de plantão...)
As culturas se mesclam, não se expelem !...O que é bom e produtivo deve ser incorporado, não ignorado...Mas SEMPRE como adendo e não como o PRINCIPAL....eis a questão toda !...Repertórios de música erudita brasileira, nos parecem INFELZIMENTE, sempre "acessório"...
Quanto à questão de arrecadação pelas "associações" ( ouça : gangs...) essas todas que o senhor mencionou ( que não ouso repeti-las porque tenho ASCO...), foi, é e sempre será uma grande píada infâme e de mau gosto...
Se compositores "famosos" como o Tom Jobim, nada recebia por suas peças altamente tocadas e difundidas pelo MUNDO todo, imagine só se, compositores eruditos receberam ou receberão algo !...Só na outra reencarnação...
Pelo menos aqui, no estado de São Paulo, a "Desordem dos Músicos do Brasil", não canta mais de galo e nem de galinha...Estão fora do páreo pela FORÇA DA LEI !
E dá-lhe bethâneas "da vida", falidas, ultrapassadas, que ja cairam no ostracismo, receberem essa dinheirama pra montar um "blog"...Será que não a avisaram, que ela pode ter um blog "de grátis" ???...
Ai tem coisa, Maestro...E muita coisa por debaixo dos panos e atrás das coxias...
Num país onde campeia a céu aberto a corrupção, como exemplo em todas as classes sociais, desde o estafeta até o presidente da república, nada mais "NORMAUSSSSSS"...
E vamos que vamos em frente, pq atrás vem gente tentando empurrar a todos , pro abismo...
um abraço, caro mestre
Joe Canônico
ah !...desculpe...só pra complementar :
ResponderExcluir"SERIA CÔMICO SE TRÁGICO NÃO FOSSE"...
Caro Professor
ResponderExcluirO Senhor viverá sempre na memória dos que tiveram o privilégio de tê-lo como Mestre.
Eu me sinto honrada por fazer parte desse universo.
Elisabete Vulcano
Tive a honra e o imenso prazer de ter sido seu aluno, vejo que o mestre continua combativo e atuante como sempre.
ResponderExcluirLembro que em algumas ocasiões lá nos idos anos 80, já discutíamos questões como essa sobre os direitos autorais. Como bem disse muitas vezes somos até obrigados a fazer parte de certas entidades, mas o retorno é nenhum.
Mestre nem o senhor e nem nós deixamos o Brasil, pois continuamos nosso trabalho seja como compositores, buscando novos rumos para a música erudita ou popular, seja como educadores. Na verdade os que pseudo dirigem tais associações é que nos fazem pensar até que o nosso amado Brasil nos abandonou.
Forte abraço
Meus caros ex-alunos, agora colegas, muito grato pelas bondosas palavras. Acho que vocês estão supervalorizando o velho professor, mas mesmo que assim seja, o meu abraço cordial a todos vocês. Continuem me querendo bem . . . não custa nada.
ResponderExcluirAh!!! já ia me esquecendo, acompanhem no FaceBook a minha página ISTO É SÃO PAULO, na qualvocês podem colaborar e muito.
ResponderExcluirTchau!!!