domingo, 8 de abril de 2012

Manifestem-se os que são do ramo




Sinceramente, um dos campos que eu gostaria de dominar, ou pelo menos, ter a formação necessária para poder abordar e discorrer é o da psicologia e da psicanálise, no entanto, apesar da atração que sinto pela área, sei que não devo me atrever a julgar atitudes e comportamentos que estão além da minha compreensão. Assim, só me resta, fazer constatações, expor atitudes compatíveis e incompatíveis com a minha maneira de pensar e deixar aos profissionais a palavra final sobre o assunto que vou abordar. Sei, por exemplo, que é dado o nome de “complexo de inferioridade”, a sensação de que se é “inferior” - em algum aspecto - a alguém e que esse “sentimento imaginário” geralmente é inconsciente. No geral, o indivíduo que o possui é levado a querer demonstrar “superioridade” através de posturas que acabam por reforçar ainda mais as falsas idéias que habitam o seu subconsciente sobre a importância, a qualidade e o valor que tem - ou julga ter - configurando uma fuga deliberada do que julga ser o seu “status quo”. Acontece que esse “complexo de inferioridade” assume proporções mais preocupantes quando deixa de ser individual para tornar-se coletivo. É o que alguns consideram como “inferioridade cultural”. Esse complexo não nasce do nada, ele se intensifica aos poucos, por meio de insinuações, comparações - pertinentes ou não – e endeusamentos que acabam por levar a objetivos subjetivos que acabam por reforçar, ainda mais, o grau de negativismo, responsável pelo sentimento de inferioridade. Algumas causas podem ser facilmente apontadas, tais como: o costume arraigado de alguns pais, que usam a “comparação” para ensinar aos filhos o que é “certo” e o que é “errado”, atribuindo aos seus uma das duas posturas; Os preconceitos de ordem social relacionada à supremacia “intelectual”, “religiosa”, “racial”, “sexual” e até mesmo “econômica” de um povo sobre os demais; A “necessidade de auto-afirmação”, que procura na aceitação alheia os louros que venham coroar o seu egocêntrico “complexo de superioridade”. Essas idéias me vêm à cabeça quando começo a comparar o que nós, brasileiros, dizemos e fazemos, vejamos: Houve um plebiscito para escolher qual o regime político da nossa preferência. Rejeitamos a “Monarquia”, no entanto, somos REIS em tudo. Rei Momo; Rei da Voz; Rei Pelé; Rei Roberto Carlos; Rei do Baião; As Escolas de Samba são verdadeiras cortes; Império Serrano, Império do Papagaio (que desfilou em Helsinque na Suécia em 2004), Império do Povo (Macapá), Imperatriz Leopoldinense e outras. Não nos contentamos em “ser bons”, somos sempre “Os Maiores”. . . “do Mundo”. Em outros aspectos, a grande maioria se diz orgulhosa de ser “brasileira”, no entanto não respeita o BRASIL. Um dos símbolos mais representativos que temos é o nosso HINO NACIONAL, que dizem ser difícil - por ser muito longo e por ter muitas palavras incompreensíveis - no entanto sabem de cor qualquer letra, de qualquer música, em idiomas que não conhecem e cujo significado desconhecem. O pior, não o respeitam - por gestos e atitudes - quando é apresentado e vejam, não estou me referindo apenas ao povo, mas, também aos que o dirigem. Se fosse obrigatório saber cantá-lo para tomar posse em cargos públicos, do mais simples funcionário ao presidente da República, teríamos vagas sobrando. Analisando esses fatos - que são uma constante entre nós - sem pretender estabelecer quaisquer confrontos ou comparações, mas, apenas citar realizações recentes, chamo à atenção do leitor para que reflita sobre o tema deste artigo. • A Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí, sob a direção do Maestro alemão Felix Krieger apresentou, no Teatro “Coliseu”, em Santos, um concerto inteiramente dedicado à música alemã, com obras de Christoph Willibald Gluck, Georg Friederich Handel e Wofgang Amadeus Mozart. As três obras fazem parte do projeto pedagógico-artístico “Música Orquestral Alemã” de estímulo a jovens talentos brasileiros, revelados pelo Conservatório de Tatuí. O Projeto reverencia o compositor e pianista santista José Antonio de Almeida Prado. Seria cômico se não fosse deprimente. Não pensem que vou recriminar o Maestro Felix Krieger, muito pelo contrário, o jovem artista demonstrou exatamente o que lhe competia fazer, apresentar os autores da sua terra, que hoje, devido a outros como ele, são compositores do mundo. Ninguém em sã consciência pode deixar de reconhecer o valor da música e dos músicos alemães, do passado e do presente. Nada a censurar, também, quanto ao fato da Prefeitura de Santos abrir as portas do seu belíssimo Teatro “Coliseu” para acolher os visitantes e oferecer música de qualidade aos seus munícipes. O que causa estranheza é a nota do jornal “A Tribuna” - Evidentemente não culpo o jornal, se a alguém cabe culpa é ao redator - Geralmente o que se vê? Quando se trata de autores brasileiros, economia de letras para poupar espaço; Villa-Lobos; Mignone; Guarnieri; Gnatalli; Santoro, apenas os nomes de família. Aos estrangeiros pelo contrário, só falta agregar títulos e apelidos. Agora, o fato de o repertório fazer parte de um “Projeto Artístico-Pedagógico” direcionado à “Música Orquestral Alemã”, de “Estímulo a jovens talentos brasileiros, revelados pelo Conservatório de Tatuí”, é bastante sintomático. Não seria mais pertinente um projeto direcionado à “Música Orquestral Brasileira” que permitisse aos jovens interpretes (instrumentistas e regentes) do país, conhecer e apreciar a música dos compositores brasileiros? No entanto, o absurdo dos absurdos é constatar que o projeto diz reverenciar um autor brasileiro – José Antonio Rezende de Almeida Prado – sem, no entanto, apresentar nenhuma obra do talentoso e inesquecível compositor santista. Isso, para mim, configura um acinte à memória do artista e a todos os compositores brasileiros. Tenho a certeza, absoluta, que já estou sendo criticado, pois, no Brasil, aquele que propugna por maior visibilidade para os seus artistas é acoimado de xenófobo, enquanto o estrangeiro é patriota. Mas, não pensem que este foi o único caso da semana, não, a TV Cultura de São Paulo, apresentou no final da semana, um belíssimo recital do extraordinário Nelson Freire, gravado no Festival de Verbier (Suíça - 2007) no qual o pianista apresentou obras de Bach, Beethoven, Debussy, Albeniz e Schumann. Vendo isso, como não louvar a atitude do jovem pianista chinês Lang Lang, que ao fazer a sua estréia no Carnegie Hall (NY) apresentou, na primeira parte do programa, obras de: Schumann, Haydn, Schubert e na segunda, vestido a caráter - como chinês que é - obras de seu conterrâneo, Dun Tan, além de uma extraordinária peça folclórica, em duo com seu pai Guo-Ren Lang executando um instrumento típico chinês. Vamos pensar juntos: Sofremos ou não do “complexo de inferioridade”? Vamos, ou não, lutar pela construção da nossa identidade cultural? Manifestem-se os que são do ramo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário