terça-feira, 30 de junho de 2009


Como a vida é curiosa.
Por mais que a razão procure minimizar os fatos acoimando-os de coincidências, sistematicamente surgem outros que apontam, surpreendentemente, no sentido de mostrar que “há algo além da nossa vã filosofia”.
Digo isso porque acabava de lêr o pensamento de Platão que diz: “Todo homem que não traz música dentro da alma, não é digno de confiança”, quando me vem às mãos a notícia de que o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, uma das mais tradicionais escolas de música do Brasil, fundada em 1906, portanto a 103 anos, havia desaparecido por obra e graça de dois “Decretos” do então Prefeito José Serra.
Esses “Decretos”, pura e simplesmente determinaram a desapropriação do prédio onde a instituição funcionou por 99 (noventa e nove) anos, como também “tomou” para o poder público todo o acervo bibliográfico da entidade, composto de 19.000 volumes, entre os quais inúmeras obras raras – livros, manuscritos e partituras musicais. A alegação do ex-prefeito refere-se à dívida que o Conservatório teria quanto ao pagamento do IPTU.
Pergunto?
O prefeitinho teria a mesma atitude se ao invés do Conservatório Dramático e Musical, a dívida fosse devida pela Escola Paulista de Medicina, ou pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco?
Acredito que não, pois os alunos e ex-alunos dessas veneráveis instituições de ensino por certo se rebelariam contra ato tão truculento.
Eu, como ex-aluno do Conservatório – do qual sempre me orgulhei – mesmo sabendo que, talvez , possa ser apenas uma voz clamando no deserto, não posso deixar de conclamar a todos os paulistas que amam o nosso solo e a todos os brasileiros que trazem a música na alma, que se juntem e passem a divulgar, aos quatro ventos, esse e outros atos desse senhor que pretende chegar à Presidência da República.
Tenho a absoluta certeza de que, se não fosse a militância política, o nome desse senhor seria igual ao de um José qualquer, sem parâmetro de comparação com qualquer dos incontáveis alunos, ex-alunos e professores que passaram por tão venerável instituição. A quem compará-lo? A Mário de Andrade? A Camargo Guarnieri? Aos irmãos Alimonda? (Alteia, Lydia e Heitor), ao inesquecível Professor Caldeira Filho? A Rossini Tavares de Lima? À Miguel Arquerons? À João Sépe? A Alonso Aníbal da Fonseca? A Antonio Munhoz? A Eny da Rocha? Chega. Seria um não acabar de nomes de grandes artistas e de melhores brasileiros.
Apenas para aguçar a curiosidade de todos aqueles que têm a música como o farol das suas existências proponho: Procure informações sobre os atos contra o patrimônio musical paulista cometidos por esse senhor. Informe-se também sobre o que acontece hoje no Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos” de Tatuí; e aonde foi parar a Universidade Livre de Música.
É bom parar e pensar nas palavras de Platão:

“Todo homem que não traz música dentro da alma, não é digno de confiança”,

Sérgio de Vasconcellos-Corrêa

Um comentário:

  1. Sérgio
    É com prazer que passo a seguir seu espaço acreditando sempre que todo homem trás na alma outra alma "desalmada" de poesias e músicas.
    Um enorme abraço ao som da nona de Beethoven.
    Lúcia amorim

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