Sinceramente, um dos campos que eu gostaria de dominar, ou pelo menos, ter a formação
necessária para poder abordar e discorrer é o da psicologia e da psicanálise, no entanto, apesar da
atração que sinto pela área, sei que não devo me atrever a julgar atitudes e comportamentos que
estão além da minha compreensão. Assim, só me resta, fazer constatações, expor atitudes
compatíveis e incompatíveis com a minha maneira de pensar e deixar aos profissionais a palavra
final sobre o assunto que vou abordar.
Sei, por exemplo, que é dado o nome de “complexo de inferioridade”, a sensação de que se é
“inferior” - em algum aspecto - a alguém e que esse “sentimento imaginário” geralmente é
inconsciente.
No geral, o indivíduo que o possui é levado a querer demonstrar “superioridade” através de
posturas que acabam por reforçar ainda mais as falsas idéias que habitam o seu subconsciente sobre
a importância, a qualidade e o valor que tem - ou julga ter - configurando uma fuga deliberada do
que julga ser o seu “status quo”.
Acontece que esse “complexo de inferioridade” assume proporções mais preocupantes quando
deixa de ser individual para tornar-se coletivo. É o que alguns consideram como “inferioridade
cultural”. Esse complexo não nasce do nada, ele se intensifica aos poucos, por meio de insinuações,
comparações - pertinentes ou não – e endeusamentos que acabam por levar a objetivos subjetivos
que acabam por reforçar, ainda mais, o grau de negativismo, responsável pelo sentimento de
inferioridade.
Algumas causas podem ser facilmente apontadas, tais como: o costume arraigado de alguns pais,
que usam a “comparação” para ensinar aos filhos o que é “certo” e o que é “errado”, atribuindo
aos seus uma das duas posturas; Os preconceitos de ordem social relacionada à supremacia
“intelectual”, “religiosa”, “racial”, “sexual” e até mesmo “econômica” de um povo sobre os
demais; A “necessidade de auto-afirmação”, que procura na aceitação alheia os louros que venham
coroar o seu egocêntrico “complexo de superioridade”.
Essas idéias me vêm à cabeça quando começo a comparar o que nós, brasileiros, dizemos e
fazemos, vejamos:
Houve um plebiscito para escolher qual o regime político da nossa preferência. Rejeitamos a
“Monarquia”, no entanto, somos REIS em tudo.
Rei Momo; Rei da Voz; Rei Pelé; Rei Roberto Carlos; Rei do Baião;
As Escolas de Samba são verdadeiras cortes; Império Serrano, Império do Papagaio (que
desfilou em Helsinque na Suécia em 2004), Império do Povo (Macapá), Imperatriz Leopoldinense
e outras.
Não nos contentamos em “ser bons”, somos sempre “Os Maiores”. . . “do Mundo”.
Em outros aspectos, a grande maioria se diz orgulhosa de ser “brasileira”, no entanto não respeita
o BRASIL. Um dos símbolos mais representativos que temos é o nosso HINO NACIONAL, que
dizem ser difícil - por ser muito longo e por ter muitas palavras incompreensíveis - no entanto sabem
de cor qualquer letra, de qualquer música, em idiomas que não conhecem e cujo significado
desconhecem. O pior, não o respeitam - por gestos e atitudes - quando é apresentado e vejam, não
estou me referindo apenas ao povo, mas, também aos que o dirigem. Se fosse obrigatório saber
cantá-lo para tomar posse em cargos públicos, do mais simples funcionário ao presidente da
República, teríamos vagas sobrando.
Analisando esses fatos - que são uma constante entre nós - sem pretender estabelecer quaisquer
confrontos ou comparações, mas, apenas citar realizações recentes, chamo à atenção do leitor para
que reflita sobre o tema deste artigo.
• A Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí, sob a direção do Maestro
alemão Felix Krieger apresentou, no Teatro “Coliseu”, em Santos, um concerto inteiramente
dedicado à música alemã, com obras de Christoph Willibald Gluck, Georg Friederich Handel e
Wofgang Amadeus Mozart. As três obras fazem parte do projeto pedagógico-artístico “Música
Orquestral Alemã” de estímulo a jovens talentos brasileiros, revelados pelo Conservatório de
Tatuí. O Projeto reverencia o compositor e pianista santista José Antonio de Almeida Prado.
Seria cômico se não fosse deprimente.
Não pensem que vou recriminar o Maestro Felix Krieger, muito pelo contrário, o jovem artista
demonstrou exatamente o que lhe competia fazer, apresentar os autores da sua terra, que hoje, devido
a outros como ele, são compositores do mundo. Ninguém em sã consciência pode deixar de
reconhecer o valor da música e dos músicos alemães, do passado e do presente.
Nada a censurar, também, quanto ao fato da Prefeitura de Santos abrir as portas do seu belíssimo
Teatro “Coliseu” para acolher os visitantes e oferecer música de qualidade aos seus munícipes. O
que causa estranheza é a nota do jornal “A Tribuna” - Evidentemente não culpo o jornal, se a
alguém cabe culpa é ao redator - Geralmente o que se vê? Quando se trata de autores brasileiros,
economia de letras para poupar espaço; Villa-Lobos; Mignone; Guarnieri; Gnatalli; Santoro, apenas
os nomes de família. Aos estrangeiros pelo contrário, só falta agregar títulos e apelidos.
Agora, o fato de o repertório fazer parte de um “Projeto Artístico-Pedagógico” direcionado à
“Música Orquestral Alemã”, de “Estímulo a jovens talentos brasileiros, revelados pelo
Conservatório de Tatuí”, é bastante sintomático. Não seria mais pertinente um projeto direcionado
à “Música Orquestral Brasileira” que permitisse aos jovens interpretes (instrumentistas e regentes)
do país, conhecer e apreciar a música dos compositores brasileiros?
No entanto, o absurdo dos absurdos é constatar que o projeto diz reverenciar um autor brasileiro –
José Antonio Rezende de Almeida Prado – sem, no entanto, apresentar nenhuma obra do talentoso
e inesquecível compositor santista. Isso, para mim, configura um acinte à memória do artista e a
todos os compositores brasileiros.
Tenho a certeza, absoluta, que já estou sendo criticado, pois, no Brasil, aquele que propugna por
maior visibilidade para os seus artistas é acoimado de xenófobo, enquanto o estrangeiro é patriota.
Mas, não pensem que este foi o único caso da semana, não, a TV Cultura de São Paulo,
apresentou no final da semana, um belíssimo recital do extraordinário Nelson Freire, gravado no
Festival de Verbier (Suíça - 2007) no qual o pianista apresentou obras de Bach, Beethoven,
Debussy, Albeniz e Schumann. Vendo isso, como não louvar a atitude do jovem pianista chinês
Lang Lang, que ao fazer a sua estréia no Carnegie Hall (NY) apresentou, na primeira parte do
programa, obras de: Schumann, Haydn, Schubert e na segunda, vestido a caráter - como chinês
que é - obras de seu conterrâneo, Dun Tan, além de uma extraordinária peça folclórica, em duo com
seu pai Guo-Ren Lang executando um instrumento típico chinês.
Vamos pensar juntos: Sofremos ou não do “complexo de inferioridade”?
Vamos, ou não, lutar pela construção da nossa identidade cultural?
Manifestem-se os que são do ramo.
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